22/11/2011

Diga que fica

REVISTA VOCÊ S/A ONLINE - Preocupadas com a fuga de mulheres na faixa dos 35 anos, as empresas estão tornando o ambiente favorável à permanência e à ascensão feminina


As mulheres estão assumindo, cada vez mais, postos até então ocupados pelos homens. Embora seja um importante avanço se compararmos ao cenário de 20 anos atrás, a desigualdade continua quando olhamos para os contracheques e para o topo da pirâmide. No Brasil, apenas 23% das mulheres estão em cargos de gerência, 12% em diretoria e 7% na presidência, segundo dados do Guia VOCÊ S/A-EXAME – As Melhores Empresas para Você Trabalhar de 2010. Realidade que reflete duas situações. 

"Antes, eu fazia malabarismos para buscar meu filho na escola. Às vezes precisava acionar os avós, o que me fazia perder a concentração no trabalho."
 Mariana Staudt, 25 anos, trabalha na área de suprimentos da natura

Há uma parcela significativa de mulheres que larga o emprego na faixa dos 35 anos por se sentir preterida nas promoções. Outras preferem não subir quando percebem que, quanto mais alto o cargo, menos equilíbrio terão entre vida pessoal e profissional. Preocupadas com essa "fuga", muitas empresas estão desenhando políticas para melhorar o ambiente de trabalho. 

"Perdíamos ótimas profissionais no meio do caminho, algumas depois de voltarem da licença- maternidade", afirma Armando Bordallo, diretor de RH da consultoria Ernst & Young Terco. Após uma pesquisa interna, descobriuse que a principal razão delas pedirem demissão estava ligada a longas jornadas de trabalho. Foi então que a consultoria criou um programa de flexibilização de horários. Até a criança completar 1 ano, as funcionárias podem ficar em casa uma vez por semana. Durante o período da amamentação, é possível reduzir a jornada, além da opção do home office para aquelas que precisam se ausentar por um determinado período. Essas ações já renderam bons resultados. 

Além do número de mulheres na companhia ter dobrado nos últimos quatro anos, nos cargos de diretoria elas já são 30%. Chegar lá é uma tarefa nada fácil para as mulheres. Mesmo aquelas que conseguiram avançar reconhecem que o caminho é árduo e um tanto quanto obscuro. Um dos maiores grupos de varejo, o Walmart, fez em 2010 um levantamento com suas executivas no Brasil para saber seus anseios profissionais. O resultado: a maioria não acredita ter autonomia e se sente com pouco poder de influência. 

Por isso a empresa está investindo num programa de mentoria. "A ideia é fazer com que elas possam avançar de fato", explica Daniela De Fiori, vice-presidente de assuntos corporativos do Walmart. Nos últimos cinco anos, a empresa intensificou esforços para manter o equilíbrio entre homens e mulheres, de olho nos benefícios da diversidade. O conselho de mulheres trabalha junto à liderança para promover práticas que permitam a criação de um ambiente inclusivo. As mulheres já são maioria na empresa e ocupam 35% das posições gerenciais. 

"A participação feminina é fundamental para nosso negócio, que tem a mulher como maior consumidora", diz Daniela. Entender o perfil de compra da mulher e suas necessidades tem sido um objetivo concreto nas companhias. Razão pela qual estão enxergando ter mais mulheres em cargos decisórios como um diferencial. 

Esmtudo da consultoria McKinsey, intitulado Women Matter 2010, compara o desempenho financeiro das maiores empresas, dividindo as organizações em dois grupos: o primeiro, com os comitês executivos formados somente por homens, e o segundo, onde existe a participação de mulheres em ao menos um dos comitês. A conclusão é de que a presença feminina aumenta em 41% o retorno sobre os ativos se comparado às empresas que têm apenas homens em seus conselhos.

PODER FEMININO
A Jonhson & Jonhson é um exemplo de quem descobriu o poder da liderança feminina. No Brasil, dos três presidentes que comandam suas unidades de negócios, duas são mulheres. Cerca de 60% dos cargos de diretores são ocupados por quem veste saias. Mas foi preciso realizar profundas mudanças culturais para quebrar barreiras, processo que começou em 2000. 

Quando um funcionário era promovido, o RH questionava se ele era a única alternativa e citava nomes de funcionárias que poderiam ter participado da seleção. "Não queríamos impor nada. A ideia era, aos poucos, reverter a situação", lembra Sonia Marques, diretora de RH da Johnson & Johnson Brasil. Nas áreas com mais dificuldade de ter a presença feminina, pela própria natureza da atividade, Sonia adotou uma política mais rígida. 

Instituiu a regra de que, a cada três candidatos para uma vaga, pelo menos uma mulher deveria entrar no processo seletivo. "Claro que temos o cuidado de só indicar profissionais que gerem resultados, e não apenas pelo fato de ser mulher", explica. Resistências rompidas, no ano passado a fábrica teve sua primeira diretora da história.

FELIZ NA CARREIRA
Quando teve seu primeiro filho, há um ano e meio, a administradora Mariana Staudt, de 25 anos, encarou o dilema de encontrar um lugar para trabalhar que lhe permitisse continuar crescendo sem ter de abrir mão da vida pessoal. Em dezembro de 2010, foi contratada pela natura para atuar na área de suprimentos. 

Está sempre perto do filho, que fica no berçário da empresa o dia inteiro. "não tem coisa melhor do que ver o sorriso dele quando estou no café e ele passa no corredor", diz. "Antes, fazia malabarismos para buscar meu filho na escola. Às vezes, precisava acionar os avós, o que me fazia perder a concentração no trabalho", conta. 

A estrutura para as mães na natura contribui para que Mariana mantenha a tranquilidade necessária ao seu sonho de crescer na carreira.

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